O que fazer em Havana: O bairro de Centro Habana
Que imagem vem a sua cabeça quando você pensa em Havana? Provavelmente uma com carrões antigos ou a cúpula do Capitólio, o prédio mais famoso da cidade. Pois quase todos os cartões-postais de Havana nasceram no mesmo lugar: a grande avenida que divide os bairros de Havana Vieja e de Centro Habana.
De um lado estão as ruas estreitas e os prédios coloniais da parte mais antiga da cidade que era protegida por muralhas até 1863. Escrevi sobre ela aqui:
-> O que fazer em Havana: Um roteiro pelo centro antigo
Do outro, o centro se abre em grandes espaços, avenidas largas e um zum zum zum permanente de carros e ônibus, turistas e moradores indo e vindo entre os dois bairros e deles para o resto da cidade.
O Capitólio, uma réplica maior de seu homônimo americano, foi sede do parlamento entre 1929 e 1959 e, mesmo com a cúpula cercada por andaimes, continua um imã para máquinas fotográficas. Dá para incluir na foto o centenário Gran Teatro de La Habana, antiga sede do Ballet Nacional de Cuba, também fechado para reformas.
Grandes praças arborizadas completam o cenário projetado no início do século XX. Até hoje, são elas que dão harmonia e tranquilidade para o bairro com maior concentração de pessoas por metro quadrado de Havana.
O Parque da Fraternidade, por exemplo, está cercado por pontos de ônibus coletivos. Ainda assim, é um ótimo lugar para descansar ao lado do Capitólio, na companhia de dezenas de bustos de personagens históricos da América Latina. A estátua de Tiradentes está lá, em frente à avenida.
O Parque Central, diante do Grand Teatro, é daqueles lugares essenciais do ponto de vista prático. Grandes hotéis cercam a praça com seus restaurantes abertos para a rua. O mais tradicional deles, o Hotel Inglaterra, é uma atração turística, com fachada e decoração do século XIX.
Dentro dos hotéis funcionam várias agências de turismo estatais, o que significa que você vai acabar entrando mesmo que não esteja hospedado. Eles também são os principais locais para acessar a internet, no computador ou por cartão.
Com tantos turistas, o corpo a corpo dos cubanos, comum na cidade inteira, atinge níveis estratosféricos. Não se dá um passo sem que alguém te ofereça hospedagem, táxi, um passeio pela cidade ou o que mais a imaginação permitir.
Aqui um simples “obrigada” já é pretexto para uma abordagem, digamos, mais insistente. É não é de se estranhar. O Parque Central funciona também como ponto para quase todos os meios de transporte disponíveis na cidade.
O ônibus turístico parte daqui. As charretes ficam estacionadas ao redor da praça, perto dos coco-táxis, as motonetas com carroceria adaptada pintada de amarelo. E os bicitaxistas surgem por todos os lados.
Entre os motorizados, há os táxis oficiais, mais modernos. E há os táxis coletivos, de todos os formatos, cores e estilos possíveis até a década de 50. Uma incrível variedade de antiguidades que, por força da necessidade, transformam as ruas de Centro Habana em um grande museu do automóvel.
No topo da lista, estão, claro, os conversíveis coloridos, restaurados com perfeição. Todas as manhãs, suas pinturas impecáveis são lustradas cuidadosamente para deixar os estrangeiros com água na boca.
Paseo del Prado
Você não precisa, e nem deve,embarcar em nenhum deles para fazer o passeio mais bonito de Centro Habana.
A alameda queridinha dos cubanos tem um calçadão largo e arborizado, cercado por duas pistas que seguem do Parque da Fraternidade até o mar. O nome oficial, há mais de 100 anos, é Paseo de Martí, o herói da Independência que morou no bairro. Mas o povo insiste em chama-la pelo nome mais antigo, Paseo del Prado.
As calçadas cobertas por pórticos foram meu caminho diário durante minha estadia em Havana. Fiquei hospedada em uma residência particular quase no meio da avenida, em um dos muitos sobrados construídos aqui no início do século XX.
Todas as manhãs encontrava os estudantes esperando o início das aulas nos bancos de mármore, perto dos leões esculpidos com o bronze dos canhões que protegiam a Havana colonial.
O desenho atual do Prado surgiu em 1928 mas a região já era lugar de passeio no final dos 1700. Primeiro, apenas para as carruagens que se aventuravam fora das antigas muralhas. Depois, para os ricos moradores que abandonavam Habana Vieja. E que, depois, começaram a se mudar para Vedado e Miramar.
Sinais de abandono corroem as fachadas, mas a Alameda ainda mantém a elegância. Seu maior símbolo é o histórico Hotel Sevilha, com arcos e azulejos inspirados na arquitetura moura da Andaluzia.
Detalhes do estilo aparecem também em outros edifícios. Influência dos árabes que ocuparam a Espanha por 8 séculos e também dos imigrantes que chegaram a Cuba no início do século XX.
No final da tarde, o calçadão se enche de cubanos. Grupos batem papo, crianças brincam, moças fazem aulas de dança ao ar livre. Meu programa preferido era seguir entre eles até o Malecón, o grande calçadão à beira-mar.
O passeio pelo Prado termina ao lado do Castillo de San Salvador de la Punta, uma das fortalezas que protegiam a cidade dos invasores. É o lugar perfeito para acompanhar o pôr do sol diante da baia de Havana.
Para conhecer:
MUSEU DA REVOLUÇÃO
A fachada imponente e o belo Salón de los Espejos ,em reforma, lembra o passado luxuoso do prédio, residência dos presidentes cubanos até 1965.
Hoje este é o melhor lugar para entender um pouco mais a história da Revolução Cubana. Fotos e recortes de jornal mostram as fases da guerrilha, a queda de Fulgêncio Batista, e os primeiros passos de Fidel Castro no novo governo e os anos de luta para derrotar os contrarrevolucionários.
Fora do prédio, o Memorial Granma guarda o barco que Fidel usou para chegar em Cuba em 1956 após exílio no México. Também estão lá aviões, tanques e carros usados nas batalhas.
Conto mais sobre o museu e a história da Revolução Cubana aqui.
Serviço:
Endereço: Calle Refugio, entre Av. de las Missiones e a calle Zulueta.Para chegar a partir do Paseo del Prado (sentido Malecón), vire à direita na Calle Refugio.
Entrada: 8 CUC (8 dólares)
Horário: Das 9 às 17h mas os últimos vistantes entram às 16h.
CALLEJÓN DE HAMMEL
Perto do esplendor do Capitólio, as ruas que cortam o bairro até a divisa com Vedado parecem sem graça. A região toda, na verdade, é repleta de construções interessantes, mas é difícil ver beleza nos edifícios descascados e desbotados por décadas de abandono.
No meio deste ambiente desgastado, nasceu um dos lugares mais interessantes para se se conhecer em Centro Habana.
As tintas coloridas do artista Salvador González começaram a subir pelas paredes em 1990. A ideia se espalhou pelos muros da rua, agregou outros artistas, até formar uma curiosa galeria a céu aberto onde arte popular e religião afro-cubana se misturam e se confundem.
Hoje a ruazinha marcada por um portal desafia os paredões cinzentos do bairro. Tornou-se atração turística mas sem perder a autenticidade. Visitantes circulam entre os ateliês, altares para os orixás, bancos de sucata e barzinhos. Jovens artistas trabalham no que parece uma grande obra coletiva.
Cheguei aqui em um sábado a tarde, bem a tempo de assistir a um show de rumba. O ritmo e a dança do grupo de mulheres, em meio aos artistas e visitantes, completaram o caldeirão cultural do Callejón.
Serviço:
Endereço: Entre las Calles Hospital e Aramburu. É melhor ir de de taxi já que o local fica distante das áreas mais turísticas.
FOTOS: Cassiana Pizaia
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