De Alter do Chão ao Canal do Jari: um passeio de barco entre rios, praias e histórias
Uma das vantagens de conhecer Alter do Chão é que logo ali perto está uma das grandes encruzilhadas de rios da Amazônia. Poucos quilômetros rio acima, o Tapajós recebe o rio Arapiuns e deságua , logo depois, no grande Amazonas. No meio deste mundaréu de água, praias e mangues, encontramos o Canal do Jari, um dos lugares mais interessantes para se visitar na região.
Para chegar lá, nosso barco foi margeando as praias de Alter do Chão até o ponto exato de atravessar o rio Tapajós de um lado a outro. São quase 20 quilômetros em, digamos, “rio aberto”. Se você estiver em barco pequeno, prepare-se para vento na cara e banhos pelo caminho.
Pouco antes do Tapajós desaguar no Rio Amazonas, uma última porção de terra divide os dois rios. É onde fica o Canal do Jari. Comprido e estreito como uma tripa, mas o suficiente para que as águas do Amazonas escapem até o outro lado.
Não é fácil entender o emaranhado de paisagens. Navegamos pelas águas do Amazonas, que chegam pelo canal natural. De um lado, após uma linha de terra, está o Rio Arapiuns, que deságua no Tapajós. Do outro lado, o próprio rio Tapajós. Atrás de tudo isso ainda dá pra ver a cidade de Santarém.
Como eu viajei na época de seca, deu pra ver bem os limites de cada um. Mas conforme as águas sobem, tudo vai se misturando, formando um ambiente que não é só rio, nem só terra, os dois se sobrepondo ou se afastando dependendo da época do ano.
É o território de jacarés, botos, garças e gaviões. Se ficar atento, você pode flagrar segundos de um sobrevoo ou de um salto para fora d’água. Também pode encontrar vitórias-régias se for época de chuvas.
No período seco, o rio deixa para trás traços de terra e grama para bois e cabras. Os criadores vivem atrás destes pastos móveis. Para aumentá-los, quase a toda a mata se foi.
A exceção é o sítio do seo Dilson, nossa próxima parada. O homem simples de 79 anos nasceu no Tapajós e alimentou os 10 filhos criando animais na várzea.
Há 50 anos, ele percebeu algo diferente. Os bichos silvestres buscavam refúgio na mata que restava atrás da sua palafita. Deixou então de cortar as árvores maiores, abriu mão do pasto e deixou a natureza em paz.
Hoje, além de bois e cabritos, seo Dilson cuida dos macacos e preguiças que vivem no alto de sapucaieiras, castanheiras e sucupiras. Suas plantas e bichos ficaram famosos, agradam turistas do mundo inteiro.
Seo Dilson tem hoje casa em Santarém mas prefere ficar no Jari, de olho na criação e guiando os visitantes por seu pequeno pedaço de floresta.
Fazemos o caminho de volta sem pressa, aproveitando o rio mais manso no final de tarde. Sem a mistura com o Amazonas, as águas do Tapajós voltam a ser azuis. O barco entra nas lagoas que se formam entre bancos de areia, passa pela bela praia da Ponta de Pedras.
Terminamos o dia em um deles, bem na Ponta do Cururu, com outro pôr do sol fantástico no Tapajós. Outra vantagem de estar em Alter do Chão.
Fotos: Cassiana Pizaia
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Guia Canal do Jari | Informações importantes
Como ao Canal do Jari
Pode-se chegar ao Canal do Jarí a partir de Santarém ou de Alter do Chão. Sair de Alter é mais interessante porque você pode incluir outras atrações no passeio e ainda aproveitar a Ilha do Amor na volta. Veja mais sobre a Ilha do Amor e outras praias de Alter do Chão aqui.
Da vila, são 40 minutos de voadeira até o Canal. Procure os barqueiros da Associação de Turismo Fluvial, que ficam na orla de Alter. Eles cobram menos e negociam os horários e percursos. Diga que quer visitar os animais de seo Dilson.
Outra opção é contratar o passeio em agências de turismo no centrinho de Alter.
O que fazer
Quando for ao Canal, inclua também paradas para banho em Ponta de Pedras e, se fizer o passeio à tarde, termine com o pôr do sol no Cururu. O passeio completo, com o Jari e as praias, demora cerca de 5 horas. Negocie antes com os barqueiros
MAIS SOBRE ALTER DO CHÃO
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Arrasou nas fotos, delicioso texto!
Parabéns pelo blog e pelos posts sobre Alter do Chão e região. Finalmente irei conhecer este lugar e estou aproveitando a sua experiência.
Fico feliz em poder ajudar, Marcelo. Boa viagem pra você! Na volta, se tiver alguma dica ou informação bacana, compartilhe com a gente!
Obrigada, Marcelo!
Gostei muito das dicas, estou indo para lá essa semana. Senti falta dos valores.
Obrigada pelas dicas, está ajudando muito a planejar minha viagem! Mas, apesar de você sugerir a negociação de preço com os barqueiros, gostaria de saber quanto você pagou, para ter uma ideia de preço. No meu caso, iremos eu e meu marido…
Obrigada!
Como faz algum tempo que fui, os preços devem estar diferentes, Luisa. Mas você pode entrar em contato diretamente com a Associação de Turismo Fluvial, que reúne os barqueiros. Eles tem um página no face, com número de telefone e outras informações: https://www.facebook.com/pg/Associa%C3%A7%C3%A3o-de-turismo-fluvial-de-Alter-do-ch%C3%A3o-1651519541740941/about/?ref=page_internal. Boa viagem pra vocês!