Passeio e trilha pela Floresta Nacional do Tapajós
Nossa trilha pela Floresta Amazônica começou no povoado de Jamaraquá, perto de Santarém, no Pará. Aqui, o campinho de areia é a única clareira entre o Rio Tapajós e a Floresta Nacional do Tapajós, um dos pedaços mais bem preservados da Amazônia.
O Quem vive na comunidade, nas poucas casas de madeira quase escondidas pelas árvores, come peixe, galinha caipira e sabe tudo da floresta.
-> Jamaraquá: Entre o Rio Tapajós e a Floresta Amazônica
Nossa guia Iranice cresceu aqui tirando o leite das seringueiras. Aos 36 anos, ela tem 7 filhos e muita coisa para contar e mostrar na nossa trilha de oito quilômetros montanha acima e floresta adentro.
No início da trilha, ainda perto do Tapajós,a vegetação é mais esparsa, parte dela formada por mata secundária, que já virou floresta de novo depois do desmatamento décadas atrás. Hoje os moradores usam os recursos naturais de forma sustentável e ajudam a preservar a floresta. As folhas da palmeira curuá, por exemplo, servem para cobrir e refrescar as casas. Mas ninguém mexe nas grandes árvores nativas da Amazônia.
As árvores vão ficando cada vez maiores à medida que subimos a montanha, nos afastando do rio. Pouco tempo depois, já estamos já no meio da floresta nativa, entre taperebás, piquiás, carapanaúbas, cedros, castanheiras.
A vantagem de entrar na floresta com alguém que vive nela, é que você entende de verdade o que acontece lá. Nossa guia conhece muito bem cada árvore do caminho . Muitas delas são medicinais, como a carapanaúba, usada para aliviar os sintomas da malária.
Conforme vamos subindo, as copas destas árvores gigantes ficam cada vez maiores, escurecendo e abafando o caminho. O calor gruda a roupa no corpo. Estamos já de língua de fora mas Iranice tem fôlego para todos os detalhes. Macacos escondidos, borboletas, bichos camuflados nos troncos, formigas gigantes e …aranhas.
Bem ao lado da trilha, uma tarântula peluda coloca as patas para fora do buraco. Vai ter filhotes, diz a guia. Ai, ai, ai ….
Mas ela nos dá segurança, e não só por causa do facão na cintura. Além de conhecer a floresta como a palma da mão, oOs guias de Jamaraquá foram treinados para conduzir os visitantes. As duas trilhas da região foram mapeadas dentro do projeto de turismo comunitário do Instituto Chico Mendes de Proteção à Biodiversidade, que administra a Flona.
A subida termina onde quase todas as trilhas acabam por estas bandas, diante de uma gigantesca sumaumeira de 40 metros de altura e um tronco de largura impressionante.
Atrás da árvore, a paisagem é daquelas de cair o queixo. Estamos no Pará, o estado que mais desmata no Brasil. Mas neste pedaço protegido da Amazônia, cercado por duas estradas e um grande rio, não vemos nada além de verde. A encosta da montanha coberta de floresta termina diante das águas azuis do Tapajós.
A volta, pelo menos, é montanha abaixo. As pernas pesam. O calor aumenta à medida que descemos, sem o vento da montanha e com menos árvores gigantes.
Lá embaixo, ainda tenho forças para conhecer a fábrica e a lojinha de artesanato da comunidade. Aqui, sementes, fibras e a borracha que eles mesmos tiram da floresta ganham resistência, cor e forma. Com o crescimento do turismo comunitário, os moradores não vendem mais o látex in natura. Preferem usar a matéria-prima para fazer artesanato e ganhar um pouco mais
Fico sabendo que Iranice, além de guia e artesã, também é presidente da Associação de Moradores e viaja pelo Brasil mostrando as peças feitas com a borracha da floresta.Elas farão parte do catálogo e da página que esta turma da floresta mantém hoje na Internet.
Trilha na Floresta Nacional do Tapajós | Informações Importantes
Como Chegar à Floresta Nacional do Tapajós
A porta de entrada para a Floresta Nacional do Tapajós é a cidade de Santarém, a uma hora de voo de Belém ou Manaus. De barco, a partir das duas capitais, a viagem a Santarém dura dois ou três dias pelo Rio Amazonas.
De Santarém, chega-se à Flona pela Br 163, trecho asfaltado da rodovia Cuiabá- Santarém. São 47 km até a estrada 7, também asfaltada, que leva à cidade de Belterra. Dalí , mais 14km pela Transtapajós, uma estrada de terra bem conservada. A viagem leva no máximo uma hora e meia. Outra opção é seguir até Alter do Chão e pegar a Transtapajós. Veja como é este caminho:
-> A caminho da Floresta Nacional do Tapajós
Existem linhas de ônibus diárias para Jamaraquá. Saem normalmente às 11h em frente ao Colégio Santa Clara, na Avenida São Sebastião, em Santarém. O ônibus retorna às 5h00 da comunidade.
Também é possível chegar de barco. Agências de viagem e barqueiros fazem o percurso pelo Rio Tapajós a partir de Santarém ou Alter do Chão. Se estiver em Alter, procure os barqueiros da Associação de Turismo Fluvial. Os preços são mais baixos e você pode combinar os horários de ida e retorno. O percurso de lancha leva uma hora. Em barcos maiores, são três horas de viagem.
Onde ficar
Nos hospedamos na pousada do Seo Pedro, uma das mais antigas do Flora.
Você pode fazer a reserva direto com ele pelo celular: (93) 99124 5750.
O que fazer
Além do percurso guiado pela Floresta Amazônica, os moradores também conduzem os visitantes em passeios de canoas pelos igarapés. As praias em Jamaraquá são ótimas para banho no período de seca, entre junho e novembro.
O visitante também pode conhecer a extração da borracha, a beneficiamento e a produção de artesanato a partir do látex. Na lojinha da comunidade, as peças são embaladas com papel personalizado de Jamaraquá.
Conheça mais no site da comunidade: www.jamarqua.wordpress.com
Fique de Olho
É mais seguro e confortável usar calças compridas e sapatos fechados quando estiver na floresta. As trilhas não apresentam muita dificuldade mas o percurso demora quatro horas sob calor forte. Não são indicadas para idosos ou crianças muito pequenas. Não se esqueça de levar água.
Fotos: Cassiana Pizia
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Mais sobre o Pará:
A caminho da Floresta Nacional do Tapajós
Jamaraquá| Entre o Tapajós e a Floresta Amazônica
De Alter do Chão às Surpresas do Canal do Jari
Alter do Chão: Praias, passeios, quando ir, como chegar
Cansativo, mas divertido. Vale a pena!
Verdade, Sofia. Conhecer de verdade a Floresta Amazônica exige um pouco de esforço. Mas ter um morador como guia deixa tudo mais fácil e interessante!
Realmente interessante e de simples palavreado! Amei. Eu moro aqui no Pará, sou de Altamira, uma cidade próxima à terrível hidrelétrica de Belo Monte. Nunca visitei o local, mas sendo estudante de engenharia florestal tenho certeza que em breve visitarei 🙂
Suas descrições de viagem são emocionantes e divertidas, porque você consegue passar uma centelha do sentimento envolvido! S2
Continue assim. Bjs!
Obrigada, Eduarda! Visitar a Floresta Nacional do Tapajós foi inesquecível pra mim e tenho certeza de que você vai também vai curtir muito. Abraço!
Cassiana, gostei muito de ler seus textos/ reportagens e de ver as imagens sobre BELTERRA, JAMARACA, …
Que bom, Raul. Obrigada pelo retorno!