Santarém, no Pará: o que fazer entre Alter do Chão e a Floresta Amazônica
A meio caminho entre Manaus e Belém, no interior do Pará, Santarém é uma cidade cercada por água e floresta. Ao sul, seus limites se misturam à mata, até desaparecerem dentro da Floresta Amazônica. Nas outras direções, a cidade termina diante do gigante Amazonas ou das praias do translúcido Tapajós.
Apesar da localização incrível, os turistas muitas vezes nem entram na cidade. Saem direto do aeroporto para as praias da vila de Alter do Chão ou para a Floresta Nacional do Tapajós. Os dois lugares estavam no meu roteiro mas, como o avião chegava no começo da tarde, resolvi incluir uma noite na cidade, antes de partir na manhã seguinte. Valeu a pena.
Com cerca de 300 mil moradores, Santarém mantém ainda um ar de calmaria à beira-rio. Quando cheguei à orla bem cedo, encontrei os pescadores com seus cestos cheios de surubins, tambaquis e tucunarés. São todos pesados e vendidos ali mesmo, numa organizada Feira do Peixe.
A organização continua por toda a orla. Canoas ancoradas num canto, os barcos maiores em frente ao calçadão, e outros, vindos de toda a Amazônia com carga e redes no convés, em um atracadouro mais adiante.
A tranquilidade às portas da floresta, cercados por praias de areias brancas. Teria lugar melhor para estrear na Amazônia?
Santarém entrou no mapa do turismo no Pará há poucos anos com a fama das praias da sua vila mais famosa, Alter do Chão (veja aqui). Mas pouca gente sabe do espetáculo que ocorre bem diante da cidade.
Depois de percorrer quase dois mil quilômetros entre cerrados e florestas desde o Mato Grosso, o Tapajós encontra o Amazonas mas as águas não se misturam imediatamente.
É um fenômeno parecido com o Encontro das Águas em Manaus mas com duas diferenças importantes.
A primeira é que, em vez das águas escuras do Rio Negro, o que se vê aqui é um rio de águas azuis correndo ao lado do barrento Rio Amazonas. A segunda é que ninguém precisa pegar um barco para chegar perto. A cidade assiste ao espetáculo de camarote, ali mesmo, em frente ao calçadão.
A posição estratégica de Santarém sempre foi determinante. O exato local onde a cidade está hoje foi o centro de uma das mais sofisticadas civilizações indígenas de toda a Amazônia.
Diante do encontro das águas, os índios Tapajós dominaram a região por 700 anos. Perto daqui, arqueólogos desenterraram vasos e esculturas sofisticadas de cerâmica, decoradas com figuras humanas e de animais, só comparadas às peças da famosa civilização da Ilha de Marajó.
Algumas peças estão no Centro Cultural João Fona (estava em reformas durante a minha viagem) e em museus de Belém e São Paulo. Com a chegada dos portugueses em 1661, a aldeia foi extinta. Sobre as ocas, os jesuítas fizeram igrejas, como a de Nossa Senhora da Conceição, ainda hoje no centro histórico da cidade.
Dezenas de edifícios testemunham a colonização portuguesa nos séculos seguintes. Pena que maioria dos prédios está abandonada ou descaracterizada.
O mais antigo é Solar do Barão de Santarém, hoje uma loja de tecidos em frente ao rio.
Entre os prédios mais bem conservados estão o Solar do Barão de São Nicolau e o Solar dos Brancos. Ambos têm fachada em azulejos portugueses, portas, janelas e outros detalhes da decoração em estilo árabe. Foram erguidos no final do século XIX, época em que a borracha da Amazônia abastecia o mundo e os cofres dos barões.
A cidade começa a se preocupar em cuidar de sua história no momento em que o investimento do agronegócio aumenta no Tapajós.
Santarém representa uma espécie de atalho para a exportação da soja do Mato Grosso. É bem mais rápido chegar por terra até aqui do que ao Porto de Santos. Do Tapajós, a soja segue pelo Amazonas até o Atlântico, meio caminho andado até os Estados Unidos.
A cidade se movimenta, cheia de expectativas. De novo, sua localização no meio da Amazônia, entre dois rios gigantes, faz toda a diferença.
FOTOS: CASSIANA PIZAIA
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Como chegar em Santarém
Todos os voos para Santarém têm escalas em Belém ou Manaus. Vale a pena conhecer uma das capitais e depois chegar a Santarém de barco ou avião. Os voos levam no máximo uma hora. Os barcos regionais demoram dois dias a partir de Manaus e três, subindo o rio Amazonas, desde Belém.
Onde ficar em Santarém
Ficamos no Barrudada Tropical Hotel. É um pouco longe do centro (é preciso pegar um taxi), mas vale a pena. O hotel, construído na década de 70 tem quartos espaçosos, área de lazer e estrutura superior à dos demais hotéis da cidade. Pelo preço, compensa.
Endereço: Avenida Mendonça Furtado, 4120 A
Fones: (93) 3222 2200/93 9148 7819
O que fazer em Santarém e Alter do Chão
Algumas horas bastam para conhecer a cidade, a orla e curtir o Encontro das Águas. Para ver a movimentação no Mercado de Peixes é preciso chegar bem cedo. A maioria das construções históricas fica no centro, próximas à Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Procure antes o Centro de Atendimento ao Turista que fica na Avenida Tapajós. E não deixe de visitar o Museu Dica Frazão, a artesã que transforma fibras naturais como em roupas sofisticadas.
Alter do Chão fica a 38 quilômetros por estrada asfaltada. Vale a pena se hospedar lá para aproveitar as praias e fazer os passeios de barco pelo rio Tapajós. Conto mais sobre Alter do Chão aqui.
Outra atração da região é a Floresta Nacional do Tapajós. Você pode ir pela BR 163, a Cuiabá-Santarém, contratar o passeio de barco em Alter do Chão ou seguir de Alter pela estrada de terra Transtapajós.
Nós fizemos o percurso pela Transtapajós (veja como foi aqui) e ficamos hospedados na comunidade de Jamaraquá.
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