As coisas que o facebook não faz por você
Já vou dizendo: eu adoro as redes. Não posso imaginar minha vida e meu trabalho sem elas. E não tenho nenhuma saudade do tempo em que fazer uma ligação (cara) de telefone fixo era a maneira mais fácil de falar com as pessoas.
As vantagens são tão óbvias que nem vale a penas falar mais sobre elas aqui. Você sabe, eu sei, o mundo concorda. E estamos conversados.
Mas…
Pode até parecer estranho dizer isso hoje, mas há um mundo de coisas que o Facebook e outras redes sociais não podem fazer por nós. E se você não consegue pensar em nenhuma é porque pode estar ocupado demais checando as atualizações e curtidas.
Dá para entender. As redes sociais são o novo ponto de encontro dos amigos, o novo jornal, o boca-a-boca, o palanque político, a tv, o local de trabalho, de estudo e, para muitos, até o novo Google. Está tudo ali, na telinha que cabe na mão. Prático e rápido. Será?
Como polvos gigantes, elas se espalham por todas as direções da nossa vida. Mas sempre fica muita coisa de fora. Coisas essenciais, sem as quais talvez nem valha a pena tantos cliques.
As brechas são naturais, afinal a vida é maior que qualquer tecnologia. Ou deveria ser. O problema é que preferimos, muitas vezes, viver no espaço filtrado pelas redes sociais. É um paradoxo. Estamos conectados como o mundo inteiro e, ao mesmo tempo, deixando o nosso cada vez menor.
A questão talvez seja confundir o instrumento e o fim. A redes sociais nos conectam de maneira incrível. Mas conectam para que?
Queremos interagir, manter e ampliar amizades que se perderiam na correria da vida. Mas deixamos que o contato se resuma a curtidas e frases rápidas. Por que não fazr uma visita, compartilhar um café, um almoço, uma conversa boa de vez em quando? Falta tempo? Se você calcular o que gasta on-line, vai ver que, sim, é possível.
Damos nossa opinião, fazemos críticas como nunca, e isso é importante. Mas poucos participam de associações, partidos ou projetos que melhorem de verdade a vida das pessoas. Se ninguém botar a mão na massa, nada vai mudar no mundo em que a gente respira, se alimenta, estuda, trabalha e ganha a vida.
Queremos aprender, mas desistimos rápido quando o texto do link é um pouquinho mais longo. Ou nos contentamos com o que nos chega de forma automática, esquecendo um mundo de informações que não aparece na sua timeline porque ninguém patrocinou, ou o face decidiu que você não é público alvo.
Tem dias em que só quero navegar sem rumo, do mesmo jeito que me jogo no sofá para assistir sei-lá-o-que na tv. Ótimo! Compartilhar alegrias e tristezas, nos lembrar uns dos outros, usufruir a delícia de fazer parte de uma comunidade também é bom demais. Mas podemos fazer tudo isso e ir além.
A armadilha é entrar, por inércia, numa caixinha em que todos se parecem, numa roda viva que se alimenta dela mesma. Não deveria ser o contrário? Com tantos canais mostrando talentos escondidos, informações preciosas, amigos queridos e fontes de inspiração, temos a chance de tornar nossa vida mais interessante, significativa e feliz.
Que tal fazer os sonhos, projetos, ideias, opiniões e amizades saírem da telinha e se transformarem em ação, encontro, beijo, conversa, trabalho, negócio, conquista e experiência de verdade, daquelas que exigem sangue, suor, disposição de sair de casa e assumir os riscos da vida?
Nós decidimos se vamos obedecer cegamente aos comandos que chegam o tempo todo na tela, criados para nos manter mais e mais com os olhos presos nela, como espectadores do mundo. Ou se vamos dar direção própria a todo este fluxo maravilhoso de oportunidades do nosso tempo.
Sim, temos quase tudo na palma da mão. Mas a escolha do que fazer com isso é só nossa.
Gostei muito do texto.
Obrigada, Andréa. Beijo!