BOTO COR-DE-ROSA| O símbolo da Amazônia em risco de extinção
Sem predador nas águas e respeitado fora delas por índios e ribeirinhos, o boto cor-de-rosa, chamado também de boto vermelho, nadava absoluto nos rios da Amazônia. Nos últimos anos, contudo, as rios amazônicos deixaram de ser seguros e o animal entrou de vez na lista de animais ameaçados de extinção do Ministério do Meio Ambiente.
Mudanças no ambiente com a construção de hidrelétricas, capturas acidentais em redes de pesca e acidentes com barcos ameaçam a espécie.
Mas o pior mesmo são os caçadores. O boto não serve para comer mas é morto, esquartejado e vira isca na pesca da piracatinga, um peixe com o sugestivo apelido de urubu d´água, por comer carne podre.
É fácil e barato pegar o boto, um mamífero pacífico e sociável, que cuida dos filhotes por mais de três anos e precisa subir à tona para respirar.
O animal nasce cinza e vai mudando de cor enquanto cresce, chegando a dois metros de comprimento e quase 200 quilos. Na Reserva de Mamirauá, no Rio Solimões, há 523 km de Manaus, estudos mostram que o número de botos-cor-de-rosa vem caindo 10% ao ano.
Pra acabar com a matança de botos, o governo federal restringiu a pesca e a venda da piracatinga durante 5 anos. A medida vale a partir de janeiro de 2015 mas o controle não vai ser fácil.
Os consumidores na Colômbia e no Brasil não sabem o que estão comendo nem como o peixe é capturado. Por aqui, o urubu d´água recebe o nome bem mais simpático de douradinha. Vai ser preciso também encontrar outro ganha-pão para os caçadores.
Uma alternativa inteligente está surgindo em Novo Airão, pequena cidade às margens do rio Negro, há 180 km de Manaus. Há 16 anos, uma criança começou a alimentar e nadar com os botos, chamando a atenção de moradores e turistas.
No início, houve descontrole. Os animais eram alimentados com pão, salgadinhos e até cerveja. Com a proximidade excessiva, alguns turistas chegavam a se ferir pelos movimentos rápidos e o contato com os dentes do animal.
Ha 4 anos, um grupo de pesquisadores, órgãos ambientais e moradores, coordenados pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica, apresentou um plano para ordenar o turismo no flutuante local.
Hoje, apenas os tratadores alimentam os animais. A qualidade e a quantidade de comida são controladas. Os turistas recebem informações e até entram na água, mas não podem tocar nos animais.
As medidas agradaram a todos. Os moradores garantiram uma fonte de renda e os turistas gostam de saber que estão ajudando a preservar a espécie.
Por enquanto, o controle ocorre apenas no Parque Nacional de Anavilhanas, uma unidade federal de conservação onde fica Novo Airão. O plano de turismo com botos ainda não foi regulamentado pelo Ministério do Meio Ambiente.
Mas os flutuantes tem se multiplicado, principalmente nos parques estaduais do Amazonas. Em alguns casos, sem nenhuma fiscalização.
Aos poucos, a experiência de Novo Airão começa a servir de exemplo para a interação com botos também nos arredores de Manaus. Mas ainda é preciso regulamentar o turismo responsável com o animal, fiscalizar a caça ilegal e envolver a população na proteção ao boto.
Sem controle, o Ministério do Meio Ambiente estima que a população de botos cairá pela metade nos próximos 30 anos. Uma ameaça real a um dos maiores símbolos da Amazônia.
Para ver a lista completa de animais em extinção, clique aqui.
Fotos: Cassiana Pizaia
*Este post contou com informações do pesquisador Marcelo Derzi Vidal, coordenador do projeto de ordenamento participativo de turismo com botos em Anavilhanas.
Para saber mais:
http://www.rbtur.org.br/rbtur/article/view/583 – Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo
http://www.icmbio.gov.br/parnaanavilhanas/turismo-com-botos-vermelhos.html