A fantástica história do homem que amava a China
Como eu gostaria que este texto estivesse na categoria Viagens aqui do blog!
Mas não, a China continua em minha longa lista de desejos. Ainda mais depois que embarquei numa jornada maravilhosa ao ler O Homem que amava a China. O livro me levou a viagem espetacular ao interior do país num dos momentos mais turbulentos do século XX, quando a China ainda era um gigante adormecido.
O Homem do titulo é o cientista inglês Joseph Needhan que, em 1943, parte para a China com uma pergunta na cabeça: por que a nação responsável pelas maiores invenções e façanhas da humanidade, não conseguiu se industrializar no mesmo ritmo das nações europeias?
O resultado de suas pesquisas e aventuras revelaram ao ocidente um país milenar, responsável por descobertas e invenções que estão na base da nossa sociedade, mas que ainda era uma nação desconhecida, desprezada pelo ocidente e humilhada pela invasão japonesa.
Quem foi Joseph Needhan
O professor da universidade de Cambridge, na Inglaterra, parecia mais um personagem de ficção do que um cientista. Além de pesquisador, era socialista, militante pelos direitos civis, religioso, mulherengo, adepto do nudismo e apaixonado por mecânica e velocidade. Ainda sobrava tempo para cantar, dançar em grupos folclóricos ingleses e tocar acordeom. Ah, e aprender sete idiomas!
Mas Joseph era tudo, menos um aventureiro descompromissado. Antes de sua viagem à China, ele já havia publicado um livro, era membro da Royal Society e um dos bioquímicos mais renomados do mundo. Por que então, este pesquisador brilhante e excêntrico deixou sua vida mais do que animada e seus laboratórios e foi parar no meio da China em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial?
Tudo começou com um romance nada convencional, como tudo, aliás, na vida de Joseph. A paixão pela chinesa Lu Gwei-djen se transformou num caso de amor com o país onde ela nasceu, uma nação que, naquele momento, era pobre, atrasada e desprezada pelo mundo.
A China havia sido invadida, ocupada e humilhada pelo Japão. O mundo assistia imóvel ao massacre de Nanquim e outras cidades chinesas. Joseph não só aprendeu o chinês, como se engajou numa campanha nacional para chamar a atenção do governo britânico sobre a catástrofe que se abatia sobre a China.
Tanto fez que acabou enviado pelo governo inglês para liderar um escritório de cooperação cientifica na China. A missão era ajudar a comunidade científica local com equipamentos, materiais e livros. Nedham fez isso e foi muito além. Deixou o escritório e embarcou numa jornada pelo país com ânimo de aventureiro e curiosidade de cientista.
Suas descobertas renderam não um livro, mas uma enciclopédia vasta e detalhada sobre a civilização e a história da China. Um trabalho inédito que revelou ao mundo da época uma China escondida por séculos de esquecimento.
Uma aventura fantástica
Joseph só não contou a história de sua própria aventura. É o que faz o autor Simon Winchester em “O Homem que amava a China”. Baseando-se em cartas e registros da época, ele transforma a viagem numa jornada ainda mais fascinante, daquelas que a gente embarca com gosto, não importando se se é realidade ou ficção.
Depois de uma viagem de três meses, Joseph chega em Chongquing, na região central da China, transformada em capital depois que os japoneses ocuparam as grandes cidades da costa. Pouco depois, embarcava numa velha ambulância adaptada coberta com lona, carregada com peças sobressalentes, ferramentas e comida enlatada.
Em quatro anos, foram 11 expedições e 50 mil quilômetros percorridos de carro, barco, trem e aviões militares por uma China empobrecida, mas que sobrevivia com engenhosidade e resistia aos invasores. Nedhan chegou às florestas do Sudoeste, à antiga capital Xia’n (onde depois foi descoberto o exército de terracota) e ao litoral, onde escapou por pouco das tropas japonesas.
Na mais longa viagem por terra, o cientista seguiu para noroeste e percorreu trechos da antiga Rota da Seda, a principal ligação entre a Europa e a China durante milênios. Com um motorista chinês (que também era mecânico), foi além da Grande Muralha e entrou no deserto de Gobi. O objetivo final: chegar a uma das 400 cavernas abertas por monges budistas, o local onde foi encontrado o primeiro livro impresso do mundo.
Após quatro anos, Joseph havia encontrado sistemas de irrigação operando há 2300 anos, oficinas, fabricas, lavouras, centenas de universidades e centros de pesquisa que sobreviviam com quase nada. No caminho, conheceu lavradores, cientistas, religiosos e os homens que, depois, seriam os líderes da Revolução Comunista da China.
Joseph nunca mais voltou aos laboratórios de química. O trabalho de escrever suas descobertas e pesquisas sobre a China tomou o resto de sua vida. Seus livros, publicados pela Universidade de Cambridge, revelaram um país responsável não só por grandes invenções como a pólvora, a bússola e a imprensa, mas que nos legou até as coisas mais prosaicas (e necessárias!) como o guarda-chuva, o molinete da vara de pescar, o estribo, o carrinho de mão e o papel higiênico.
Ele nunca respondeu à pergunta que o moveu até os confins da China. Mas ”O homem que amava a China. A fantástica história do excêntrico cientista que descobriu os mistérios do Império do Centro” talvez nos ajude a entender como e por que o país que se encolheu por séculos se tornou, décadas depois, a China poderosa que conhecemos.
Além de ser uma aventura e tanto.