O que fazer em Mendoza com crianças: passeios, restaurantes e vinícolas
29 jun 2016
Quando embarcamos com as crianças para Mendoza, na Argentina, muita gente estranhou. O que fazer com os filhos numa cidade em que as maiores atrações são bodegas e vinhedos? Pois garanto que ninguém surtou, pelo contrário! Nós gostamos muito e eles também.
O segredo é aproveitar tudo o que Mendoza oferece. Sim, a região é a maior produtora de vinho da Argentina, com mais de 1200 bodegas, a terra do malbec, o paraíso dos amantes de vinho. Se o seu negócio for apenas degustar a bebida, melhor ir sem crianças.
Mas Mendoza não se resume a uva. É também uma uma cidade-oásis organizada e gostosa, numa região árida e linda, aos pés da Cordilheira dos Andes. As águas que descem das montanhas irrigam canteiros, praças e parques bem cuidados. Há também ótimos restaurantes, museus e passeios divertidos pra família inteira.
Roteiro de 7 dias em Mendoza
Fizemos esta viagem com as crianças em 2011 e o roteiro permanece bem atual. Visitamos vinícolas, fizemos os principais passeios e aproveitamos bem a cidade. Acho que funciona bem não só para quem está com crianças, mas pra todo mundo que quer curtir Mendoza sem se limitar às bodegas.
Dia 1 – As vinícolas de Maipu e a história do vinho
Tonéis antigos de Maipu.
Chegamos pela manhã em um voo de menos de duas horas desde Buenos Aires e resolvemos partir logo para as vinícolas. Alugamos um serviço de remis (táxis contratados para o passeio completo) indicado pelo hotel e seguimos para Maipu, a 18 quilômetros de Mendoza.
Maipu é uma das três maiores regiões produtoras de vinho do departamento de Mendoza, cuja capital é a cidade de Mendoza. É também o melhor lugar para conhecer a história do vinho na região.
Nossa primeira parada foi na Bodega Lopez. A visita inclui a fábrica, os locais de armazenamento do vinho, um pequeno museu com máquinas antigas ( a parte preferida das crianças) e degustação de um vinho e de um espumante(a nossa preferida!;) ).
A visita é gratuita e começa de hora em hora (seg a sex das 09h às 17h , sábados e feriados, das 9h30 às 12h30). Os horários podem ser ampliados na alta temporada.O tour termina sempre no organizado Centro de Atenção ao Turista, onde são vendidas garrafas de todos os vinhos produzidos na bodega.
Bodega Lopez.
Várias bodegas de Mendoza, incluindo a Lopez, oferecem almoço harmonizado com vinhos. Mas, como estávamos com as crianças, preferimos comer rapidamente em um pequeno restaurante de Maipu.
À tarde, seguimos para La Rural, uma vinícola tradicional fundada em 1885 pelo italiano Felipe Ruttini. A degustação e a visita (segunda a sábado das 09h00 às 13h00 e das 14h às 17h), com um passeio rápido entre as videiras, seguem o esquema geral. O diferencial fica por conta do Museu do Vinho, um dos maiores da Argentina, com mais de 4000 peças. Um lugar sob medida para crianças curiosas.
O passeio histórico/enológico terminou com uma visita rápida à Antigua Bodega Giol. Ela chegou a produzir metade dos vinhos da Argentina no início do século XX mas hoje é uma espécie de vinícola-fantasma. Não funciona há décadas, mas as máquinas, tonéis e até garrafas continuam lá, congelados no tempo.
-> DICA DE RESTAURANTE: Terminamos o dia diante de uma maravilhosa costeleta de cordeiro no restaurante Bistro M, do hotel Park Hyatt (Chile, 1124, em frente à Praça Independência). O restaurante tem grandes janelas, tapetes aconchegantes (as crianças adoraram!) e cozinha aberta para o salão (eu adorei!)
Dia 2 – As praças de Mendoza
Plaza España.
Voltar para as bodegas depois de um dia inteiro entrando e saindo delas, provocaria, com certeza, uma rebelião infantil. Resolvemos então desbravar a cidade.
O centro de Mendoza rende fácil um dia de passeio. O ponto de referência é a Plaza Independência, bem arborizada, com brinquedos bem cuidados, feirinha de artesanato e um anfiteatro com apresentações ao vivo nos finais de tarde. A cidade foi reconstruída em torno dela em forma geométrica depois de um grande terremoto em 1961.
Dê uma olhada no mapa:
Mapa de Mendoza.
JAs avenidas Las Heras, San Marti, Belgrano e Colon delimitam o chamado microcentro, um quadrado com exatas oito quadras em cada lado. Dentro deste quadrado, em torno da praça, ficam outras 4 praças com identidade própria: San Martin, Chile, Itália e España.
Caminhar entre elas dá um ótimo roteiro, com paradas estratégicas para a criançada brincar e tomar picolé.
Começamos pela San Martin. Bem perto, na Avenida las Heras, fica o Mercado Municipal, não muito grande, mas cheio de delícias argentinas. Enchemos a sacola com empanadas, azeitonas, frutas, vinho e alfajores.
De praça em praça, visitamos rapidamente a Bsílica de São Francisco, o Museu Popular Calejero e o Museu del Pasado Cuiano. Mas o mais interessante é mesmo aproveitar o caminho. As árvores são tão grandes que chegam a formar túneis verdes sobre as ruas. O segredo está nos canais de irrigação que levam água do Rio Mendoza, alimentado pelo degelo nas montanhas, a cada esquina da cidade.
Canais de irrigação nas ruas de Mendoza.
Nosso piquenique na Plaza España.
Terminamos o tour com um piquenique na Plaza España, a mais bonita e divertida, com seus painéis de cerâmica, mosaicos, balanços e gramados.
À tarde, seguimos até o Bairro Cívico ( de taxi, para não cansar mais as crianças). Vale a pena subir até a Terraza Mirador, no alto do edifício da prefeitura, para ter uma visão panorâmica de toda a cidade. A visita é gratuita.
Bisteca gigante do restaurante 1884
-> DICA DE RESTAURANTE: Jantamos no Restaurante 1884 (Belgrano, 1188, Godoy Cruz) , do chef Francis Mallman, um lugar aconchegante, com uma área externa deliciosa. Na hora de reservar, avisamos que estávamos com crianças e o pessoal separou para nós uma mesa de canto com sofá próximo à parede. Meu filho mais novo dormiu ali mesmo depois de jantar a famosa bisteca gigante com legumes. O prato é para duas pessoas mas deu com sobra para nós quatro!
Dia 3 – As vinícolas de Lujan de Cuyo
Voltamos às vinícolas, desta vez em Lujan de Cuyo. A cidadezinha charmosa e verde, colada em Mendoza, tem bodegas famosas como a Chandon e Catena Zapata.</stro g>
Depois de várias visitas, as crianças se cansaram do tour tradicional dentro das fábricas (confesso que eu também!). Procuramos então uma vinícola com bastante área verde, belas paisagens e acesso livre às parreiras. Viajamos em fevereiro e elas estavam carregadas de uvas. Oba!
Achaval Ferrer foi um achado. Os vinhos da vinícola (aberta em 2006) conseguiu uma das mais altas pontuações de um vinho argentino na Wine Spectator, a revista especializada na bebida. Mas o que me encantou mesmo (desculpem os especialistas) foi o lugar, um recanto cercado por videiras e oliveiras, emoldurados pelos picos nevados da cordilheira.
Depois da visita, relaxamos na varanda tomando um vinho delicioso enquanto as crianças desapareciam no parreiral, “degustando” as uvas maduras. Quer vida melhor? 😉
DICA DE RESTAURANTE: Jantamos no Peatonal Sarmiento, o calçadão que termina na Plaza Independência. O lugar tem vários restaurantes populares com mesinhas na calçada e comida básica. Ótimos pra descontrair e dar um descanso no bolso.
Dia 4 – Parque San Martin e Área Fundacional
Portões do Parque San Martin.
Mais um dia dedicado à cidade, mas nada de repeteco. Logo cedo, pegamos o ônibus turístico na Plaza Independência e seguimos para o Parque San Matin.
Mesmo que você não viaje com crianças, vale a pena conhecer. O parque gigantesco foi projetado por um paisagista francês no século XIX para servir de pulmão verde para a cidade. Dentro dele, cabem para campo de golfe, velódromo, estádio, lago artificial, fontes, quilômetros de ruas e até uma universidade!
O ônibus sobe ziguezagueando entre as milhares de árvores até o Serro de la Gloria, a parte mais alta do parque. No caminho, passamos pelo zoológico e pelo anfiteatro Frank Romero, onde ocorre a abertura da Fiesta de la Vendima.
Monumento ao Ejército de Los Andes
Lá no alto, o ônibus faz uma parada diante do monumento ao Exército de los Andes. É uma homenagem aos homens que atravessaram a cordilheira em lombo de burro para lutar contra as forças espanholas concentradas no Chile. A chamada Cruce de los Andes, liderada por San Martin, ficou famosa na luta pela independência dos países latino-americanos. A figura de San Martin, aliás, é um quase onipresente em Mendoza.
Restaurante Azafrán.
-> DICA DE RESTAURANTE: Na volta, descemos antes da Plaza Independência, para almoçar no Azafrán( Av. Sarmiento, 765). O restaurante, muito recomendado em Mendoza, é uma graça, tem comida bonita e caprichada e um armazém com vinhos, doces e compotas da região. A pedida mais tradicional é o menu da casa com entrada, prato principal e sobremesa.
Parque O’Higgings
Seguimos depois para a Área Fundacional, a parte mais antiga de Mendoza. O jeito mais divertido de chegar lá é caminhando pelo Parque O’Higgings, uma área verde linear com jardins, ciclovias e parquinhos infantis. Se estiver perto da Plaza Independência, melhor pegar um taxi, porque a pernada até lá é meio longa para a criançada.
Dentro do parque funciona o Aquário Municipal, outra atração que parece improvável numa terra em que quase nunca chove. A água foi retirada do subterrâneo e os peixes, répteis e anfíbios trazidos do distante Rio Paraná.
Museu da Área Fundacional.
O parque termina na imponente praça Pedro del Castillo, onde a cidade foi fundada em 1561. O Museu da Área Fundacional funciona no local do antigo Cabildo, um prédio administrativo da época colonial soterrado durante o grande terremoto. Dá pra visitar o que sobrou no piso subterrâneo do museu. Na praça, dê uma olhada nas Ruinas de São Francisco, a igreja dos jesuítas também destruída em 1961.
Dia 5 – Cavalgada nas encostas da Cordilheira dos Andes
Quem tem criança sabe que elas gostam de ação. Se tiver emoção, então, melhor ainda. Era hora de agitar a programação!
Aproveitando a proximidade com a cordilheira, as agências de Mendoza oferecem vários programas no estilo turismo de aventura: trekkins, raftins, escalada, cavalgadas que duram vários dias.
Optamos por uma versão condensada de cavalgada, duas horas percorrendo a pré-cordilheira com acompanhamento de guias especializados. Foi o suficiente para encantar as crianças sem exigir demais da forma física dos pais…
Foi bem tranquilo. Uma van da agência de turismo Wanka nos deixou na base de operações, onde os guias deram as primeiras instruções. E nem precisamos de muito empenho. Os cavalos eram calmos e acompanhavam naturalmente o líder.
Pra mim, foi perfeito e de bom tamanho. Quando você tem criança pequena, a última coisa que quer ver é um cavalo em disparada perto de um precipício. Enquanto passávamos devagarinho por paisagens de cair o queixo, o guia nos deu uma aula prática sobre a geografia, as plantas e os costumes da região.
Dia 6 – Alta Montaña, Aconcágua e fronteira com o Chile
Vinhedos em Lujan .
O passeio mais esperado (pelo menos por mim!) ficou para o último dia.
O circuito Alta Montaña, um clássico de Mendoza, dura o dia todo. Cansa um pouco mas tem a vantagem de unir as maiores atrações da região em um único trajeto. E as crianças podem descansar no conforto de um bom ônibus turístico entre uma parada e outra.
Saindo da cidade, o ônibus acompanha o rio Mendoza em boas estradas até a fronteira com o Chile. A primeira parada é na represa de Potrerillos, onde as águas são represadas antes de seguirem em canais para as plantações e a cidade.
A 167 de quilômetros de Mendoza, entramos a vila de Los Penitentes, onde fica o maior centro de esqui da região. Como estávamos na primavera, não havia neve e as pistas estavam fechadas. Mas pudemos subir de teleférico até o alto da montanha, onde a vista é realmente incrível.
A atração seguinte foi a Puente de los Incas, uma formação natural colorida em tons de laranja pelas substâncias químicas presentes na água do Rio Las Cuevas e nas fontes de águas termais.
Já perto da fronteira, entramos no Parque Provincial Aconcágua. Muitos alpinistas iniciam aqui sua escalada até o pico da montanha mais alta da América do Sul. A parte que nos coube foi olhar e sonhar, aproveitando um mirante estratégico na beira da estrada.
Nossa dose de adrenalina ficou por conta da subida ao Cristo Redentor, um monumento a 4200 metros de altura que simboliza a amizade entre argentinos e chilenos. Pra chegar lá, já na divisa com o Chile, é preciso que as condições do tempo sejam favoráveis. Tivemos sorte! Faz frio e venta muito,( é preciso proteger as crianças)mas você se vê entre os grandes picos, diante das paisagens mais deslumbrantes de toda a viagem!
Villaciencio.
Descer pela estrada estreita, serpenteando montanhas e abismos, é de gelar a alma de qualquer mãe, mas dá pra sobreviver…rs. Almoçamos num restaurante básico do povoado de Las Cuevas e fizemos uma visita rápida ao Hotel Termal de Villavicencio, fechado desde 1974, mas ainda com belos jardins. O passeio durou quase 12 horas ( há passeios mais curtos, que excluem Villavicencio)e, com certeza, valeu a pena.
Dia 7 – Retorno
Antes de embarcar de volta, só deu tempo mesmo de dar uma volta de despedida no Peatonal Sarmiento. No final, acho que as crianças, em vez de atrapalhar ( como muita gente imaginou), nos ajudaram a aproveitar melhor a cidade. Acabamos conhecendo Mendoza melhor que a maioria dos turistas focados só no caminho do vinho. 🙂
Excelente postagem!
Vou viajar com 3 crianças 6, 11 e 14 anos, e vou fazer os passeios que você indicou.
Gostaria de saber se os passeios precisam ser reservados com antecedência e se para a faixa etária das minhas filhas teria alguma outra opção???
Tem alguma gruta, águas termais em que é possível tomar banho??
Obrigada!
Daniela, eu fiz os principais, mas há outras opções de passeios nas agências de Mendoza. Seria interessante você procurar uma delas assim que chegar e já reservar os que te interessarem mais. Para banhos nas proximidades, o Termas de Cacheuta tem várias piscinas termais de uso público. No local, funciona também o Spa Termas Cacheuta, um hotel que trabalha com esquema de diárias ou day-use. Não me hospedei lá mas você pode conseguir mais informações em http://www.termascacheuta.com
Parabéns! Excelente artigo. Deu vontade viajar!
Obrigada, Marcelo! Mendoza é a sua cara!;)
Excelente postagem!
Vou viajar com 3 crianças 6, 11 e 14 anos, e vou fazer os passeios que você indicou.
Gostaria de saber se os passeios precisam ser reservados com antecedência e se para a faixa etária das minhas filhas teria alguma outra opção???
Tem alguma gruta, águas termais em que é possível tomar banho??
Obrigada!
Daniela, eu fiz os principais, mas há outras opções de passeios nas agências de Mendoza. Seria interessante você procurar uma delas assim que chegar e já reservar os que te interessarem mais. Para banhos nas proximidades, o Termas de Cacheuta tem várias piscinas termais de uso público. No local, funciona também o Spa Termas Cacheuta, um hotel que trabalha com esquema de diárias ou day-use. Não me hospedei lá mas você pode conseguir mais informações em http://www.termascacheuta.com
Obrigado, gostei muito das explicações e roteiro, passeios. Tenho intenção de ir no carnaval e levar minha filha de 11 anos.
Vocês vão adorar. Boa viagem!